Publicado em: 29 jun 2015

MORTES NAS ESTRADAS E O NOSSO: VIVA, SHAOLIM! O UNIVERSO TORCE POR VOCÊ!

Por: Inise Machado

VIVA, SHAOLIM! O UNIVERSO TORCE POR VOCÊ

A comoção coletiva pela morte do cantor Cristiano Araújo e sua namorada, Alana Coelho Pinto de Morais, vítimas de acidente de trânsito, deixa um alerta sobre a verdade funesta das estradas. O sinistro entrará para as estatísticas como mais um acidente.  Segundo levantamento do Observatório Nacional de Segurança Viária, feito para a VEJA, o trânsito “mata mais de que o câncer” principalmente jovens. “Nada menos do que 58% dos mortos têm entre 18 e 44 anos”, dados do DPVAT – Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre. Essa ocorrência lembrou-me de Francisco Jozenilton Veloso – Shaolim, verdadeiro herói que se supera a cada dia, juntamente com sua família, e que nos inspira meditar sobre a “invalidez” que nos valida comentar sobre os exageros em relação aos efeitos sem tanta importância para as causas.

O noticiário da quarta-feira, 24, girou em torno da morte do cantor, como fosse fato incomum e volta à pauta, que deveria ser diária, geralmente, quando a fatalidade envolve celebridades. Aqui, entre nós, Maria de Fátima, mãe de um bebê de seis meses, enfermeira do Hospital Édson Ramalho, foi morta, quando passava na faixa de pedestres por um motoqueiro embriagado, no mesmo dia (24). Apenas o registro sem repercussão e mais um para as estatísticas. O banco de dados de acidente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) mostra um anuário estatístico até 2011, tendo como fonte a Polícia Rodoviária Federal (PRF), com resultados assustadores, e uma disparidade gritante entre as fontes de pesquisas.

60 mil mortes e 352 mil por invalidez permanente

O seguro obrigatório de veículos revela que o número de vítimas no trânsito é muito superior ao que fazem crer as estatísticas oficiais. Em 2012, foram registrados mais de 60 000 mortos, um aumento de 4% em relação a 2011, e 352 000 casos de invalidez permanente. A estatística oficial que tem como fontes a PRF, revela que foram 40.000 mortes e o DPVAT que diverge, totalizam os sessenta mil. A explicação é que o desencontro das informações se dá porque os dados oficiais têm por base ocorrências e como fonte a PRF, enquanto o DPVAT se baseia nas indenizações pagas.

A matéria publicada na Veja, assinada pelos jornalistas André Eler, Kalleo Coura e Tamara Fisch, afirma que se morre mais em acidentes de trânsito do que por homicídio ou câncer. “Ou seja, nós, brasileiros, temos mais motivos para temer um cidadão qualquer sentado ao volante ou sobre uma moto do que a possibilidade de deparar com um assaltante ou de enfrentar um tumor maligno”. A veja diz que para se justificar esses números “costumam-se apontar a precariedade das estradas, a infraestrutura deficiente, a falta de ciclovias e as falhas na sinalização como as causas para as tragédias no asfalto, que os carros vendidos por aqui, que não passam nos padrões de segurança europeus, são verdadeiras armadilhas letais sobre rodas. Todos esses fatores aumentam os riscos, mas a maior razão para o massacre no trânsito é que nós, brasileiros, dirigimos muito mal.  

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Shaolim e a pesada sentença

Mais de 95% dos desastres viários no país é resultado de uma combinação de irresponsabilidade e imperícia. O primeiro problema está relacionado à ineficiência do poder público na aplicação das leis e à nossa inclinação cultural para burlar regras. “O segundo tem sua origem no foco excessivo em soluções arrecadatórias para o trânsito, multas, essencialmente, e quase nenhuma atenção à formação de motoristas e pedestres”.

A impunidade na grande maioria dos casos impera, porque as penas são brandas consideradas a sentença sempre pesada demais para a vítima. Enquanto Shaolim suporta num leito há mais de quatro anos o milagre de uma vida normal, o caminhoneiro Jobson Clemente, culpado pelo acidente, foi condenado pela 4ª Vara Criminal da cidade de Campina Grande, no dia 13 de novembro de 2012, a suspensão da habilitação por um ano; dois anos de detenção, em regime aberto, convertidos em prestação de serviços à comunidade e pagamento de três salários mínimos a entidades determinadas pela justiça.

Shaolim VIVE!

Toda repercussão em torno do acidente que envolveu Shaolim cessou rápido, com raras lembranças de alguns mais sensíveis à situação ou próximos da família. Em março o apresentador Augusto -Gugu- Liberato o “visitou”. Não gostaria de cair num julgamento natural de carência de Ibope. A julgar pelas ações sociais praticadas por Gugu, deve ter sido um misto de sentimento de solidariedade e necessidades de audiência. Prefiro olhar o lado bom que enxerga sempre o melhor da atitude dos homens em detrimento dos seus reais interesses.

O site da emissora, contudo, revela que no dia em que o programa foi ao ar (noite da quarta-feira, 04 de março) dados prévios indicam que a Record ficou em segundo lugar no horário com 9,4 pontos de média com 14 de pico e 16,1% de participação. No mesmo horário a Globo foi líder com 19,9 e o SBT terceiro colocado com 7,7. A Band por sua vez foi quarta colocada com 2,6 pontos, lembrando que os dados prévios poderiam sofrer alterações nos consolidados, em que cada ponto equivalia a cerca de 67 mil domicílios na grande São Paulo.

VIDA EM ABUNDÂNCIA ou vida vegetativa?

Shaolim acidentou-se no dia 18 de janeiro de 2011. Nos primeiros nove meses desse ano houve novo aumento de 52% dos casos de invalidez permanente por acidente de trânsito, 166 mil, segundo números do DPVAT. Shaolim que poderia ter sido incluído nas estatísticas por óbito, desdobramento desolador para familiares e fãs desdobra-se em um resultado afortunado. Shaolim VIVE! E sua qualidade de vida, bem assim, o que o levou ao novo modo de vida, o amor que o envolve, devem servir de lição para todos. Ele continua nos trazendo alegria com o seu exemplo, sua força, e o seu olhar que excede a abrangência da ciência e os seus próprios limites.

Descobri que ele vive a forma mais pura da realidade humana, uma beleza rara para quem procura entender a grandeza da sua existência. A consciência dos afetos é o que lhe oferece vida em abundância, um abandono de si mesmo, ainda, que involuntário, só é possível em Deus. “Shaolin consegue se comunicar e interagir com a família através de expressões faciais e dos olhos”, relatou sua esposa, Laudiceia Veloso, em entrevista a Gugu, de quem também me tornei fã porque se a dedicação é atributo particular para uns, para outros é revelação de desvelo sem medidas.

Com o olhar comunicação íntima e forte

O contato dos olhos é uma das formas mais fortes e íntimas de contato entre as pessoas. “Essa relação envolve a comunicação do sentimento num nível mais profundo do que o verbal, e mexe com todos os órgãos”, afirma Alexander Lowen que -criou- ampliou a Análise Bioenergética. Para ele quando os olhos de duas pessoas se encontram, há uma sensação de contato físico entre elas. A qualidade deste contato depende da expressão do olhar e podemos olhar dentro da pessoa, através dela, além dela, e em torno dela. O olhar desmascara as palavras. Na verdade, os olhos têm uma dupla função: são órgãos da visão e também do contato.

Pesquisadores revelam que a sensação de quem perde os movimentos é de estar dentro de um corpo que não pode controlar. Há, contudo, um esforço pessoal de superação. “Ele apresenta evoluções pequenas, é um processo longo e gradativo. Nunca tivemos uma regressão no seu quadro médico. Shaolin tem consciência e compreende tudo que acontece ao seu redor. Na medida do possível, ele interage conosco. Ele é muito esforçado”, explicou Laudicéia. Esforço esse fruto do sentimento natural em oferecer uma resposta àqueles que se doam apostando na reversão do quadro.

Novas linhas sobre a vida

O contato olho no olho é raro nas relações normais do dia-a-dia. “Não vemos mais um casal conversando olho no olho. Não sabemos o futuro disso”, lamenta a enfermeira Sandra Adriana, respondendo a uma pesquisa, em Belo Horizonte, sobre o uso exagerado do smartfone, publicada no Portal Terra. Médicos britânicos elaboraram um documentário e passaram seis meses registrando o dia-a-dia da unidade em Cambridge, para mostrar as novas linhas entre a vida e a morte, alteradas de acordo com os avanços da medicina.

Para o neurologista David Menon, a citada pesquisa ajuda na discussão sobre o tema. Um dos que foi submetido aos estudos, Richard Rudd, de 43 anos, que sofreu danos à espinha num acidente, em outubro de 2003, paciente da unidade neurológica do Hospital Addenbrooke, cuja história é contada no documentário Between Life and Death (Entre a Vida e a Morte) ao se comunicar com os médicos, com os olhos, pediu que não desligassem os aparelhos que o mantinham vivo e que continuassem o seu tratamento. Também, com os olhos, disse que preferia viver com todas as limitações do morrer.

Obstinação pela VIDA

A obstinação de Shaolim pela VIDA e a prova de amor inconteste dos seus deve ser exaltada com olhar humano para o que há de mais divino, e com o olhar divino para o que há de mais humano, num passeio pela frase atribuída a Leonardo da Vinci “os olhos são a janela da alma e a vitrine do mundo” convencendo cada vez mais especialista de que o coração salta aos olhos numa harmonia inconteste fazendo ver o que os outros não vêm, logo não sentem.

Assim, para homenageá-lo faço coro com Violeta Parra: “o que pode o sentimento não o pode o saber nem o mais claro proceder, nem o maior dos pensamentos, tudo o muda num momento qual mago condescendente, nos afasta docemente de rancores e violências, só o amor com sua ciência nos torna tão inocentes”. Viva, Shaolim! O universo é seu fã.

 

 

 

 

 

 




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