Publicado em: 18 ago 2015

Manifestações: Cássio perdeu. De novo

manif JP
As manifestações ocorridas ontem (16/08) enterraram de vez a possibilidade de Dilma Rousseff sofrer o impeachment, mas dificilmente deixarão de ocorrer no futuro.
Para muita gente, ir para a rua funciona como uma espécie de terapia coletiva para colocar suas raivas – e preconceitos – para fora. Cria umaconsciência coletiva de grupo conjuntural e encorajadora.
Se não existiam ainda as condições jurídicas para justificar o início do processo até a semana passada, depois de ontem, se já eram escassas depois do anúncio da Agenda Brasil, deixaram de existir também as condições políticas.
E esse fracasso de público das manifestações representa a pá de cal, o último suspiro para as pretensões dos que, a exemplo de Aécio Neves, Cássio Cunha Lima e as lideranças dos movimentos mais à direita a eles associados que lideraram essas manifestações, ainda sonhavam com a realização de novas eleições.
Esses são os grandes derrotados.
A exceção novamente foi São Paulo, cidade onde o número de participantes foi o único a superar o das manifestações de abril, que já mostraram o movimento em franca decadência. Segundo o Datafolha, foram 135 mil ontem, enquanto que em março esse número beirou os 100 mil.
A turma de Cássio: com Zé Agripino Maia
e Ronaldo Caiado na Venezuela
Isso pode mostrar que os tucanos paulistas, isto é, Geraldo Alckmin e FHC, vão jogar nas duas frentes. Vão apoiar o acordo de sobrevivência para Dilma, que no fundo é uma adesão às ideias tucanas, mas vão também tentar manter a pressão das ruas para manter a influência sobre o eleitorado mais conservador e elitista. Lembremos que 2016 vem antes de 2018.
O Datafolha pesquisou o perfil dos que foram ontem à Avenida Paulista e confirmou o que é visível em fotos das manifestações: 61% eram homens, 40% tem 50 anos ou mais, 30% tinham de 36 a 50 anos, 40% ganham entre R$ R$ 7.881 e R$ 39.400 de renda familiar. Ou seja, faltaram mulheres, jovens e pobres na Paulista ontem à tarde.
De qualquer modo, foi mais uma demonstração de forças dos tucanos paulistas para mostrar aos mineiros quem tem voto e gente pra mobilizar.
Enquanto isso, em Belo Horizonte, segundo a PM, a manifestação de ontem contou com a presença de seis mil participantes. E Aécio participou.
Os impactos políticos na Paraíba
Cássio comemorando o fracasso no Facebook
Em João Pessoa e Campina, as manifestações contra Dilma, segundo a PM, contaram com 800 e 500 pessoas, respectivamente.
Para o apoio explícito de lideranças políticas como os tucanos Cássio Cunha Lima e Ruy Carneiro e o deputado federal Manoel Jr., que deseja ser candidato a prefeito de João Pessoa, além de um aparato de divulgação montado nas redes sociais e com entrevistas em importantes rádios concedidas pelos organizadores na última sexta, esperava-se um número mais expressivo de participantes.
Mas, não foi isso que aconteceu. O fracasso foi tão retumbante que, como previsível, os participantes foram abandonados pelos cassistas dessas lideranças políticas, que sequer deram as caras para não serem associadas a mais esse fracasso político.
No caso de Cássio, ele sai muito menor do que entrou depois desses quase dez meses de crise política. Líder do maior partido de oposição no Senado, Cunha Lima poderia ter se destacado na crítica mais programática ao governo Dilma.
Mas, não foi para isso que ele foi indicado. Cássio preferiu o aventureirismo de Aécio Neves, que não via perspectiva de se tornar presidente dentro das regras do jogo. A força eleitoral e, principalmente, política do atual presidente do PSDB não persistiria até 2018, onde o PSDB paulista o esmagará sem muita resistência.
Restou a Cássio e Aécio a identificação e a aliança com o que havia de pior na política brasileira, como as redes sociais mostram cotidianamente e como as manifestações expõem num espetáculo duro de assistir.
Tudo isso travestido da velha crítica moralista que marca historicamente as posições de certos setores da sociedade, normalmente localizados no andar de cima, e usadas sempre para combater qualquer governo que ameace distribuir renda. Foi assim com Getúlio, foi assim com Jango, foi assim com Brizola, no Rio, foi assim com Lula e está sendo assim com Dilma.
Hoje, nada disse existe. A esquerda é hoje predominantemente neokeynesiana, tanto que um autor declaradamente não marxista como Thomas Pikety vira estrela dessa esquerda.
É claro que, por isso mesmo, deve-se dar um desconto na covardia do PT, nesse imobilismo e falta de iniciativa mesmo para abraçar as bandeiras de defendidas por Piketty, como a taxação de grandes fortunas e das heranças.
Além disso, existem outras grandes diferenças, principalmente em relação aos anos imediatamente anteriores ao pré-1964. Ali havia uma disputa real porque Jango abraçara as bandeiras das “reformas de base”. E havia a Guerra Fria e a Revolução Cubana em pleno curso.
Hoje, esses setores anseiam pela “venezuelização” do país para dar vazão à soluções autoritárias. É o velho o golpismo de setores da sociedade que só esperaram que a memória dos anos pós-1964 arrefecesse e um novo caldo de cultura emergisse.
Para o bem e para o mal, Lula não é Chavez e o empresariado sabe disso. Cássio e Aécio não perceberam essa faceta? Por conta disso, podem penar no isolamento político que essas posições conservadoras representam, porque elas nunca tiveram representatividade eleitoral.
Elas representam nichos e servem apenas para os Bolsonaros da vida manterem seus mandatos sem nunca almejarem qualquer projeto de mais largo alcance, como um executivo.
Cássio pode refazer essa trajetória recente, mas acredito muito pouco que ele faça isso. Os espaços, especialmente na Paraíba, são muito escassos. O PT não é algo a ser considerado, óbvio. E o PMDB deve aprofundar a aliança com o PT, especialmente se Lula for mesmo candidato.
Uma terceira via no plano nacional, com Ciro Gomes, deve incorporar muitos setores da sociedade insatisfeitos, na esquerda e fora dela. No PT, em especial, mas não só nele. Esse deve ser o campo de Ricardo Coutinho.
Um nota sobre Manoel Jr
Passou a ser questionável a posição de que o deputado federal Manoel Jr tem mesmo a força apregoada junto a Michel Temer, principalmente depois do apoio dado às manifestações desse domingo.
Não é a Temer que Manoel Jr é ligado, mas a Eduardo Cunha. E Michel Temer opera hoje para isolar Cunha, ao lado de Renan Calheiros, no Congresso, para fortalecer Dilma.
Enquanto a turma de Cássio procura salvá-lo. É isso que os aproxima hoje.
Simbolicamente, Manoel Jr. deve ter assinado ontem sua ficha de filiação ao PSDB.



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