Publicado em: 20 set 2014

Pais e mães relatam a dor de terem os filhos assassinados na Paraíba

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“Não fui capaz de salvar o meu filho, fiz de tudo para afastar ele das drogas, do crime, mas não consegui. É uma dor que que eu gostaria que ninguém passasse”, desabafa Moisés Arcanjo, pai de um jovem de 18 anos que vendia drogas e foi assassinado há quase dois anos. Histórias como a de Moisés são cada vez mais comuns na Paraíba.

O estado mantém o quinto maior índice de mortes de jovens do país, segundo dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social neste ano de 2014. Por este motivo, alguns pais e mães, espectadores da morte de seus filhos, relatam o sentimento de fracasso e as lágrimas de terem em muitos casos presenciado o mundo do crime roubando a vida de parte de sua família.

Em um desses relatos, dona Maria do Carmo define o que foi ‘o pior presente que uma mãe poderia receber’. No dia de seu aniversário, ela recebeu a notícia que Lucérgio, seu filho, foi assassinado, o que transformou um dia de festa em uma grande agonia. “Foi um dos dias mais difíceis da minha vida. Eu sabia que ele era errado, mas não esperava que um dia iria vê-lo assim; uma mãe nunca espera, seja o filho como for”, disse ela. O filho de Maria do Carmo foi encontrado morto na Praia de Jacarapé, em João Pessoa. O crime foi divulgado pela mídia, mas ela soube apenas por pessoas próximas.

Ela conta que nunca esperava ver o filho dentro do caixão, que sempre tinha notícias que ele estava roubando para manter o vício e que chorava muito abraçada com ele. “Saía para as prisões como uma louca para visitá-lo, mas ele era um menino muito carinhoso, nós o amávamos muito. Agora resta a saudade. Não tem uma mãe que esqueça nunca o filho, não importa como ele seja”, disse ela.

Entre lágrimas e muito emocionada, Maria do Carmo ainda ressaltou que, caso fosse possível, voltaria no tempo e faria muitas coisas diferentes. “Mãe sempre pensa que o filho vai ficar bem e eu sempre esperava isso, mas não foi o que aconteceu. Ele só piorava e um dia chegou a dizer que a sua vida era uma sina, pois estava se sentindo bem e sem nenhum motivo aparente surgia o desejo de se drogar para criar forças e roubar as coisas de outras pessoas”, explicou.

Segundo ela, nada lhe faltava, porém Lucérgio sempre preferia estar nas ruas com os amigos e tudo piorou quando ele começou a usar crack, que, para Maria do Carmo, “foi uma das piores coisas já criadas”. A mãe ainda explicou que seu filho foi assassinado porque presenciou outro crime e reconheceu o homem que o cometeu.

‘Me sentia impotente’, conta pai de vítima
Outra história com o mesmo final é contada por Moisés Arcanjo, pai de Iraercio, 18 anos, morto há dois anos por três disparos de armas de fogo, dentro da casa em que morava. O pai lamenta: “Não fui capaz de salvar o meu filho, fiz de tudo para tirar ele das drogas, do crime, mas não consegui, me sentia impotente. Não queria estar contando essa história, mas meu filho não me ouviu“. Ele lembra do sentimento de fracasso, por exemplo, ao ver o filho sendo deito pela primeira vez aos 14 anos, e confessando o crime ao delegado.

Responsável por um instituto educacional para crianças no bairro de Mandacaru, ele conta que realiza diariamente trabalhos para que as crianças se afastem das drogas e do crime. Entretanto, sente que fracassou na mesma tarefa com o seu filho. “Eu livrei 160 crianças da minha escola das drogas, mas não conseguir fazer o mesmo com o meu filho”, ressaltou.

Ao recordar os últimos dias do seu filho, Moisés disse que muitos pais experimentam o que ele passou durante o tempo que tentou ajudar o filho. Ele explica que o valor da família aos poucos vai sendo perdido e o que se torna importante são apenas os amigos, nada mais.

A partir disto, o acesso às drogas e ao crime fica mais fácil. “Nós tentávamos ajudar, mas, infelizmente, as amizades sempre ganhavam e, quanto mais perigosas eram as relações de amizade, mais ele queria estar perto. Meu filho começou com crimes leves, no entanto partiu para a venda de crack e se endividou. No comércio dessa drogas não existe SPC ou Serasa”, enfatizou ele.

Atualmente, Moisés ainda traz consigo uma foto de Iraércio morto no chão da casa onde morava, e o desejo de tê-lo do seu lado pois, segundo ele, quem entra no mundo do crime e das drogas desconhece a dor que sentem os familiares por essa situação.

Estatísticas
Ainda de acordo com os dados apresentados pela Secretaria de de Segurança Pública e Defesa Social, em 2002 foram assassinados 330 jovens na Paraíba. Apenas entre 2011 e 2013 houve redução, pois naquele ano foram 916 mortes e em 2012 o Mapa da Violência registrou 906 mortos por crimes violentos.

 

G1PB




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