Publicado em: 3 fev 2019

A extorsão nossa de cada ano via livros didáticos

Acredite ou não, essa via de pagamento no valor de R$ 982,00 em livros didáticos para uma criança do 4º ano, se refere a 7 livros + 4 livros paradidáticos, em suma, quase mil reais por um conjunto de livros… Realmente, isso é só para quem pode, sem contar com matricula, material coletivo, material individual, fardamento, mochila, lancheira… Ufa… Mães e pais sabem o que sofrem para conseguir pagar tanto mesmo em tempos de crise. Todo esse sacrifício em busca de uma boa educação para seus filhos. Sabendo disso, e se aproveitando do desejo dos pais, escolas e editoras ultrapassam todos os limites ao exigirem sem distinção os livros de apenas uma editora… Sem transparência alguma, indicam a compra e não explicam em nenhum momento como se deu a escolha por aquela coleção de livros… O pior de tudo é que os pais engolem a seco e calados… Não exigem a transparência!

Bom, continuando… Se dividirmos o preço total dos livros pela quantidade de livros, que são onze, temos que o livro em média custa R$ 89,00. Considerando os preços extorsivos dos livros no Brasil, esse valor é quanto custa em média bons bestsellers de negócios.

Por mais que as editoras argumentem, pode ser baixa tiragem, pode ser o que for, mas uma coisa é certa, a taxa de encalhe é nula ou próxima disto, todos os livros produzidos são vendidos, pois os pais, reféns da indicação do livro pela escola, são obrigados a comprá-los. Livros estes que em geral, apesar da impressão em cores, são de baixa qualidade e em sua maioria descartáveis, não servem para outro aluno no ano seguinte.

Chegou a hora desse comércio ser investigado, vamos denunciar não só ao Procon, mas também ao Ministério Público para que as escolas expliquem como escolhem as editoras e o que ganham com isso, pois os pais só perdem.

Na prática, nós pais, somos vitimas, reféns ou trouxas mesmo. No modelo jurássico de educação que vivemos, onde livros didáticos são escolhidos sem passar pela avaliação dos pais, sem transparência, apenas com a exigência da escola.

Sem contar que o livro didático é protegido por direitos autorais, o que na prática não protege o autor coisa nenhuma, apenas garante os lucros absurdos do editor. Pois a única forma de escapar deste custo extorsivo seria utilizar livros de um colega que já esta mais adiantada.

“Deus me livre de meu filho usar livro dos outros”, falam alguns pais como se isto fosse a pior coisa do mundo, trouxa eles. Mas temos de admitir, a indústria de livros didáticos é uma verdadeira máfia, somos extorquidos todos os anos. E ainda aceitamos caladinhos essa extorsão absurda!!!

A luz no fim do túnel pode estar em algumas hipóteses:

  • Livros didáticos em creative commons, é uma tendência, muitas obras de grande qualidade estão em creative commons, são músicas, vídeos, imagens, livros e um monte de obras culturais em creative commons. A adoção deste modelo significa uma ruptura com o modelo de negócios que “comercializa a cultura”. Este modelo poderia ser em forma de livros e até mesmo em forma de Wikis, como a Wikipedia. Para isto precisamos deixar de demonizar a tecnologia.

 

  • Eco-livros digitais livres – Estes seriam na verdade uma variação do item anterior, seriam como livres open source, que as escolas poderiam obter uma licença única e replicar para seus alunos. Eco-livros seriam livros ou software com objetivo didático, como as enciclopédias digitais, com a vantagem de serem ecológicos e reaproveitáveis. Poderia ate receber upgrade automático via web.

 

  • Existe uma estimativa da presidente Federação Nacional das Escolas Particulares, Amábile Pacios, é que 30% das escolas em todo o país adotam de alguma forma o tablet em sala de aula

 

Estas são algumas hipóteses, quem sabe não aparece um grupo de educadores para colocar a ideia do livro didático livre em prática, provavelmente um projeto destes, colaborativo, produzirá um produto muito melhor, com a conjunção de ideias e pontos de vista dispares, um produto muito mais consistente.

Por fim, como na cultura livre, o conhecimento pertence à humanidade.

Mas, sabemos que não há interesse das escolas que também lucram junto as editoras e não querem de forma algumas buscar meios de ajudar os pais nesse momento de crise financeira…

Alguns comentários de pais que sofrem para comprar livros

“Tenho filhos de 10 e 7 anos e cada livro custou mais de 100 reais, fora o caderno de exercícios, que é vendido à parte. Apesar disso, não consigo reaproveitar os livros do filho mais velho porque os livros sempre mudam. Alguns livros vem com senhas para acessar conteúdo pela internet para impedir o reaproveitamento do mesmo. Os livros não possuem nenhuma qualidade editorial que justifique esse custo. Livros com essa faixa de preço são vendidos nas livrarias como edições de luxo. É no mínimo imoral que tais preços sejam aplicados a itens básicos de educação. Acabo de ler em uma matéria de Clóvis Rossi que as editoras dos livros didáticos também estão na mão dos grandes grupos de mídia como Editora Abril e Globo. Isso é Brasil. Totalmente lamentável”. Pontuou um pai.

“Me sinto também roubada!!! Que ódio!!! Acabo de comprar uma gramática no valor de R$ 98,00. Obrigatório pelo Colégio. A qualidade da capa é horrível. Comprei pela internet nas lojas Americanas. Se tivesse ido pessoalmente na loja e pego nas mãos essa porcaria, não teria comprado mesmo sendo “obrigatório”. O Colégio já cobra mais de R$ 900,00 de apostilas pedagógicas. Detalhe: a gramática é específica para o sexto ano; tem a do 5º, 7º, etc. O ano que vem não compro mais nada!!! Palhaçada”. Destacou uma mãe

“Além do mais os livros são recortados e não podem ser reaproveitados… Um absurdo! No colégio do meu filho, o Século é assim infelizmente… Estou muito insatisfeita nesse ponto, porém gosto do ensino e da instalação da escola e das professoras por isso ainda continuo lá”, disse Sandra Trocólli




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